Brincar é uma ação que permeia toda a
história da humanidade.
No artigo 31 da Convenção dos Direitos
Humanos a ONU (Organização das ações Unidas) instituiu o seguinte: “Toda
criança tem direito ao descanso e ao lazer, a participar de atividades de jogos
e recreação apropriadas à sua faixa etária, usufruindo livremente da vida e das
artes”. (ONU, 1995).
O brincar é um momento de auto-expressão e
auto-realização. É algo único, rico e cheio de significados.
É logo nos primeiros dias de
vida que um bebê começa a brincar. Quando ele responde aos estímulos de sua mãe
com risos ou com o olhar, ele está se comunicando através do brincar.
Com o passar dos meses, os aspectos
psicomotores começam a ganhar força e o brincar se manifesta com a manipulação
e exploração de pequenos brinquedos ou objetos.
Mais adiante com o aparecimento da linguagem
surgem os jogos de imitação e assim segue evoluindo, passa pelo faz-de-conta e
chega até os jogos de grupo.
Brincar é tão necessário para o
desenvolvimento do organismo de uma criança, como o alimento, o abrigo, o ar
puro, os exercícios, o descanso e a saúde.
Portanto, brincar é fundamental para um
desenvolvimento pleno do ser humano.
O ato de brincar traz consigo a possibilidade
da criança não apenas imitar a vida, mas traz a possibilidade de transformá-la.
Com o faz-de-conta, se imita, se imagina, representa e se comunica.
A presença dessa situação imaginária é o que
distingue a brincadeira de outra atividade. Um fato que vem a legitimar o
faz-de-conta é a dissociação do significado do objeto. A criança sente a
necessidade de representar o mundo adulto em suas brincadeiras, mas na
impossibilidade de manipular os objetos pertencentes a este mundo, ela utiliza
artefatos substitutos para representar os do mundo adulto (como por exemplo, a
utilização de uma caixa de fósforos no lugar de um barbeador).
No momento em que se proporcionam, na escola,
brincadeiras, cabe ao profissional de educação física observar e registrar os
momentos em que aparecem, em seus alunos, o desenvolvimento de suas capacidades.
Mas também existe outra situação, onde o professor
deve direcionar atividades onde as brincadeiras tenham um espaço determinado,
com materiais determinados e principalmente com objetivos específicos a serem
alcançados. Aí sim cabe uma intervenção pedagógica intencional.
O brincar permite que cada um seja autor de
seus papéis, escolhendo-os, elaborando-os e agindo de acordo com suas fantasias
e conhecimentos, podendo inclusive solucionar problemas que possam aparecer.
Esta é uma ocasião de internalizar e elaborar sentimentos e emoções
desenvolvendo o senso de justiça e moral, como diz Piaget.
Brincando, também se podem desenvolver
algumas capacidades como a atenção, a imitação, a memória e a imaginação. Além
é claro, de colaborar para a construção da identidade e da autonomia.
“Brincar é a fase mais importante da infância - do
desenvolvimento humano neste período - por ser a auto-ativa representação do
interno - a representação de necessidades e impulsos internos.” (Froebel, 1912,
apud KISHIMOTO, 1998).
Maturana e Verden-Zoller colocam alguns
pontos que consideram fundamentais sobre o brincar:
A consciência individual aparece a partir do
desenvolvimento da consciência corporal.
Quando um bebê não é tocado pelos pais por nenhum canal, o bebê se
torna, ao crescer um ser sem identidade nem sentido próprio, pois carece de
referência operacional.
A consciência social bem como a
autoconsciência só aparece a partir da dinâmica de brincadeiras que ocorrem com
os pais.
Muitos
já perderam a capacidade de brincar pelo fato de estar sempre pensando no
futuro, sempre competindo para obter êxitos, deixando de viver o presente. “Brincar é atentar para o presente.”
Brincadeira é qualquer
atividade praticada com inocência e realizada totalmente no presente, voltada
para ela própria e nunca para seus resultados.
É evidente que quando se for empregar a
brincadeira como canal de aprendizado intencional sobre um determinado
conhecimento. É preciso que o professor tenha clareza e consciência de tudo o
que propõe, tanto em relação às atividades quanto a teoria que o embasa. Segundo
Kshimoto:
“Por ser uma ação iniciada e mantida pela criança, a
brincadeira possibilita uma busca de meios, pela exploração ainda que
desordenada, e exerce papel fundamental na construção do saber fazer.”
(Kshimoto, 1998, pg. 146)
Referência:
MATURANA, Humberto; VERDEN-ZOLLER, Gerda.
Amar e Brincar Fundamentos
esquecidos do Humano. 1ª ed. São Paulo: Palas
Athena, 2004.
PIAGET, Jean & INHELDER, B. A função semiótica ou simbólica. In: A psicologia da criança. Lisboa:
Moraes, 1979
KISHIMOTO, M. Tizuko. O Brincar
e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 1998.